Existem várias rotas partindo de diferentes regiões da Europa, todas levando ao destino final: a Catedral de Santiago de Compostela. Entre elas, algumas têm origens históricas bastante antigas, marcando os primeiros passos daqueles que desejavam chegar ao túmulo de São Tiago.
Você conhece as principais rotas históricas de um dos percursos de peregrinação mais conhecidos e antigos do mundo?
1. Caminho Primitivo: a rota original
Este é considerado o mais antigo de todos. De acordo com registros históricos, foi percorrido no século IX por Alfonso II das Astúrias. A jornada começa em Oviedo e é marcada por paisagens montanhosas e trilhas isoladas.
Apesar de ser fisicamente desafiador, é um percurso profundamente espiritual, onde cada passo carrega o peso da história medieval.
2. A Via da Prata: origem romana
A Via da Prata se tornou mais popular na Idade Média, mas suas raízes estão nas antigas estradas romanas. Inicialmente usada para comércio e transporte, acabou se transformando em uma importante ligação para os peregrinos que vinham do sul da Península Ibérica.
Com partida em Sevilha, é a rota mais longa de todas, atravessando a Espanha de sul a norte e passando por paisagens históricas da Extremadura e Castela.
3. Caminhos Pré-Medievais: a importância dos Celtas
A história mostra que, antes da oficialização das rotas cristãs, muitos dos caminhos que levavam os peregrinos até Santiago de Compostela já eram utilizados por celtas, romanos e outros povos pré-cristãos.
Rotas Celtas
A população celta, que habitou grande parte da Europa Ocidental, especialmente os residentes no noroeste da Península Ibérica, desenhou e construiu trilhas que, mais tarde, se tornaram passagens obrigatórias do Caminho de Santiago.
Conhecidos por atribuírem significados espirituais a determinados lugares, os celtas acreditavam que a região onde hoje está o túmulo de São Tiago era sagrada e representava o “fim do mundo”. O Cabo Finisterra – ou “Fim da Terra” – era considerado o ponto mais ocidental do mundo conhecido, e os celtas acreditavam que este local tinha uma conexão com o além, funcionando como um portal para o divino.
Com grande reverência ao Sol, a direção oeste, onde ele se põe, simbolizava morte e renascimento. Por isso, as peregrinações a Finisterra e à região de Compostela são vistas como precursoras das rotas cristãs.
Caminhos Naturais
Também ligados aos celtas, que não construíam estradas formais, mas criavam caminhos naturais, esses percursos de peregrinação são conhecidos por suas paisagens de tirar o fôlego. Rios, vales e montanhas compõem essas rotas, funcionando como guias da Natureza para orientar tanto viagens espirituais quanto comerciais.
Rios como o Minho e o Lima serviam como referência para os deslocamentos e, mais tarde, foram incorporados ao Caminho Português. Locais elevados, como o Monte Pindo, na Galícia, eram considerados sagrados pelos celtas e pontos de culto. Muitos desses lugares acabaram se transformando em paradas importantes ao longo do Caminho.

Placas direcionais ao longo do Caminho de Santiago indicam a distância até o destino final. Cada quilômetro percorrido é um passo mais perto de Santiago!
4. O Caminho do Norte: Costa Cantábrica como guia
Durante as invasões muçulmanas, o Caminho do Norte era uma alternativa mais segura para os peregrinos cristãos. A rota segue a costa do norte da Espanha, utilizando trilhas romanas e proporcionando vistas incríveis do Mar Cantábrico. Pelo caminho, passa por cidades como San Sebastián, Bilbao e Santander.
5. O Caminho Português
Reconhecido desde a Idade Média, o Caminho Português tem trilhas históricas utilizadas por comunidades locais há séculos. Cidades como Braga, Porto e Coimbra eram centros religiosos e culturais importantes já na época romana e visigótica.
Há duas opções principais:
- Caminho da Costa: Passa pelas paisagens deslumbrantes da costa atlântica do norte de Portugal e Galiza.
- Caminho Central: Trilhas rurais, tranquilas e cercadas pela natureza.
6. O Caminho Francês
Este é o caminho mais famoso e percorrido no mundo (apesar de que o Caminho Português está começando a se aproximar em termos de popularidade). Partindo dos Pirineus franceses, atravessa cidades e vilas históricas como Pamplona, Logroño, Burgos e León.
Reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO, combina um legado histórico com infraestrutura moderna, desenvolvida ao longo dos séculos.
A união entre história, passado e presente
As rotas mais antigas e recentes são muito mais do que simples caminhos até Santiago de Compostela. Elas são testemunhos vivos da história, unindo tradições religiosas, influências culturais e paisagens naturais que moldam a experiência de milhares de pessoas há séculos.
Cada uma delas tem características únicas, sejam as paisagens, os desafios físicos ou a conexão com a história e a natureza. É uma oportunidade única de reflexão espiritual e de contato com as raízes da civilização europeia.